“ Histórias do Bosque ”
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Á medida que se embrenhavam no bosque, as altas e densas árvores cobriam a saída da planície. Ao fim de quinze minutos Evelin já não mais avistava o velho carvalho mágico.
Tudo estava silencioso e sombrio, pois poucos eram os raios de sol que conseguiam atravessar as folhas das árvores.
Caprice e Evelin caminhavam uma ao lado da outra enquanto Violet e o seu misterioso companheiro andavam um pouco mais à frente, completamente alheados das duas amigas.
Evelin limitou-se a fitar o chão, ouvindo atentamente os passos dos seus companheiros a calcar ramos secos, fazendo-os estalar, e a pisar a terra molhada. Subitamente desviou o olhar para as montanhas que tocavam a lua e que pareciam acompanhar, lado a lado, o seu caminho através da floresta.
Alguns metros à frente, Violet enveredou por um carreiro ladeado por flores silvestres, o que fez com que as imponentes montanhas ficassem para trás.
A jovem Evelin enfrentou novamente o chão e assim continuou durante aquilo que lhe pareceram horas até que Caprice quebrou finalmente o silêncio:
- Acho que já está na hora de pararmos para reabastecer as nossas forças! – Afirmou a fada sentando-se no ombro de Evelin.
Violet e o jovem misterioso pararam e olharam Caprice mantendo o silêncio.
- Não temos tempo para paragens desnecessárias… - Disse o rapaz severamente.
- Bem… - Disse por fim Violet - …talvez ela tenha razão. Uma jornada destas não se faz de estômago vazio. E há já ali uma clareira, podíamos lá parar para almoçar.
- Com certeza menina Violet. – Consentiu o jovem seguindo caminho.
Evelin suspirou de alívio pois já começava a sentir fome e Caprice esvoaçou à sua volta indignada:
- “Com certeza menina Violet…faço tudo o que estiver ao meu alcance para lhe lamber as botas menina Violet!” – Gozou Caprice imitando a voz do jovem.
Evelin soltou uma pequena risada e Violet, que se apercebera da situação, deixou-se ficar para trás de modo a alcançar a fada e Evelin.
- Vocês não deviam troçar de alguém tão importante como ele! – Murmurou Violet.
- E que razão nos levaria a não troçar de uma pessoa tão arrogante e pretensiosa? – Perguntou Caprice na sua fina voz de fada traquina.
- Ele é descendente de um dos caçadores das Montanhas da Lua! Aliás ele próprio pertence a essa lendária linhagem, desde os nove anos de idade que ele caça tesouros raros e protege os elfos e a rainha Naím! São dez anos ao serviço de Celtiwonde! – Respondeu Violet dando, na forma como se exprimia, uma maior valorização aos actos do jovem.
- Oh…porque é que não estou impressionada? – Perguntou a fada ironicamente – Não me interessa se ele é lendário ou não, eu vou lá mostrar-lhe como se trata uma senhora! – Dito isto Caprice precipitou-se em direcção ao caçador.
- Não fada! – Gritou Violet tentando agarra-la, mas a pequena criatura escapou-lhe por entre o dedos e voou a grande velocidade parando em frente ao jovem e obrigando-o a parar também.
- Ouve lá, tu não penses que lá por seres todo importante nos podes tratar assim! E mais…
O jovem caçador retirou rapidamente do bolso aquilo que parecia ser uma pequena lanterna de bronze e entendeu-a diante de Caprice fazendo esta soltar um pequeno grito.
- Isso é um apagador de fadas! – Gritou Caprice assustada – Era utilizado por caçadores de fadas, tirava-nos a luz, depois o nosso pó mágico e depois matav… - Caprice caiu inanimada no chão.
Evelin correu rapidamente para ela empurrando o caçador para alcançar a fada. A jovem baixou-se e pegou cuidadosamente em Caprice tentado, com um dedo, sentir o seu pequeno coração bater. Felizmente a fada não estava morta apenas desmaiada pelo susto.
Evelin encarou furiosamente o jovem que permanecia impávido perante aquela situação.
- Olha o que fizeste! – Gritou ela – Podias tê-la matado!
O caçador revirou os olhos e prosseguiu ignorando Evelin.
- Não me vires as costas quando falo para ti seu…seu idiota! – A jovem pegou numa pequena pedra do chão e atirou-a ao caçador acertando-lhe no meio das costas.
O jovem virou-se bruscamente fulminando Evelin com o olhar, depois a sua expressão de fúria esmoreceu-se dando lugar ao habitual olhar misterioso.
- O meu nome é Matt… - Disse ele com a sua voz sedutora e meiga.
Evelin sentiu uma tontura ao ouvir estas palavras, como se aquele nome a fizesse viajar num mar cor-de-rosa, sentiu mesmo a sua face pálida a corar. Porém mal teve tempo para organizar os seus pensamentos pois Matt rapidamente a alcançou pegando em Caprice que continuava inconsciente e estendendo depois a mão a Evelin para esta se levantar do chão.
A jovem cedeu-lhe a mão e sentiu outra tontura, desta vez bem mais forte, e desejou que Matt não repara-se na sua cara cada vez mais rosada.
- Na clareira podemos deitar-lhe umas gotas de água. Acho que será o suficiente para a fazer acordar. – Sugeriu ele retomando o caminho. Evelin e Violet seguiram-no até, poucos minutos depois, alcançarem uma enorme clareira recheada de flores e cogumelos multicolor.
Evelin sentou-se junto a Matt enquanto Violet colhia algumas flores.
O jovem caçador segurou Caprice com uma mão e com a outra abriu um velho cantil de metal deixando cair sob a face da fada adormecida algumas gotas de água. Caprice estremeceu e abriu lentamente os seus olhos cor de esmeralda. Num movimento brusco a fada voou para fora da mão de Matt.
- Tu! – Gritou ela apontando um dedo ao jovem – Tu tentas-te matar-me! – Depois olhou para Evelin sentada ao lado do seu “carrasco” – Eve… Não me digas que usaste um dos teus feitiços para fazê-la aliar-se a ti, seu caçador de fadas!
Evelin levantou-se aproximando-se de Caprice.
- Tem calma…ele é dos nossos afinal…foi ele que te salvou a vida. – Disse Evelin à nervosa fada.
Caprice olhou, desconfiada para Matt que permanecia sereno, depois encarou de novo a amiga.
- Tens a certeza Eve? É que se ele te fez algo eu ainda posso desfaze-lo!
Evelin sorriu:
- Está descansada…ele é tão inofensivo como um coelhinho… - Evelin pensou por momentos -… bem, talvez não um coelho daqui. – Emendou ela.
Nesse momento Violet aproximou-se trazendo consigo alguns cogumelos e flores.
- Toma uma flor...sei como vocês, fadas se perdem com um pouco de pólen…
- Podes ter a certeza! – Exclamou Caprice voando com a sua flor para uma rocha.
- …Evelin e Matt, aqui têm cogumelos. – Violet estendeu alguns cogumelos verdes a Evelin e ao jovem.
- Dispenso… - Disse o caçador levantando-se e afastando-se.
- Ele é sempre assim tão amigável? – Perguntou Evelin com ironia.
Violet sentou-se junto da jovem suspirando:
- O Matt não é muito dado a conversas…há quem diga que é tudo por causa da morte do pai, mas na minha opinião ele é apenas tímido. – Explicou Violet.
- O pai dele morreu? – Perguntou Evelin.
- Sim…o Matt era ainda uma criança, ninguém sabe ao certo como a não ser ele…sabes o Matt estava com o pai quando ele morreu, mas ele nunca fala sobre isso. Tudo o que lhe interessa é ser o caçador lendário que encontra o maior tesouro do mundo e é aclamado por todos da aldeia das Montanhas da Lua.
- O maior tesouro do mundo? – Perguntou a jovem invadida pela curiosidade.
Violet olhou Evelin:
- O maior tesouro do mundo, aquele que Matt e os seus antepassados buscam insaciavelmente, é a Pérola do Dragão.
Evelin franziu o sobrolho e Violet continuou:
- É uma pérola mágica que multiplica tudo aquilo em que toca, quer seja dinheiro, comida, o que quer que for.
Os olhos de Evelin arregalaram-se perante tal explicação.
- Ora como a aldeia do Matt é bastante pobre – Prosseguiu Violet -…tal tesouro ia ser-lhes muito útil pois já não necessitavam de passar fome e todos iam ter um grande poder. Porém… - Violet hesitou durante alguns segundos -…a Pérola do Dragão pertence ao Rei Dragão, um ser que tanto pode ser um homem como a criatura que cospe fogo, e que governa todo o bosque de Celtiwonde.
- Então é fácil! O Matt só tem que ir até ele e pedir-lhe a pérola. Tenho a certeza que ele é bastante rico e poderoso e que pode ceder sem qualquer problema a pérola a um dos habitantes do seu bosque. – Disse Evelin.
- Não é assim tão simples…ninguém pode alcançar o castelo do Rei Dragão sem que este o queira. – Explicou ela.
- Oh… - Evelin baixou o olhar.
- Bem… - Levantou-se Violet - …já almocei e agora vou procurar o Matt, e tu vê se comes os teus cogumelos antes que eles fiquem azuis! – Dito isto Violet correu pelo meio das flores desaparecendo atrás de umas árvores.
- “Antes que eles fiquem azuis?” – Questionou-se Evelin olhando para os cogumelos no seu colo. Subitamente a cor verdejante de um deles foi substituída por um azul-escuro. A jovem espantada pegou nele largando-o rapidamente.
- Ai! Estão gelados! – Gritou ela sacudindo a mão.
- É… se não os comeres eles congelam. – Explicou Caprice que observara tudo – É a lei da natureza.
- Que lei mais disparatada! – Resmungou Evelin pegando noutro dos cogumelos que permanecia verde. – Será que são venenosos? – Perguntou ela examinando-o.
- Claro que não! É hora de almoço, logo isso são cogumelos de almoço! – Esclareceu Caprice – Comes um e pensas de imediato em algo que gostarias de comer, e o cogumelo toma o sabor daquilo em que pensaste!
Evelin soltou uma risada e, a medo, colocou um na boca. De seguida pensou num delicioso hambúrguer, como só se faziam no bar do “Flash”, e logo sentiu o sabor do queijo, da carne e da mistura secreta de molhos. Deliciada com aquela espantosa refeição Evelin engoliu os restantes cogumelos até ficar cheia.
- Deviam de existir coisas assim na minha cidade. – Disse Evelin levantando-se – Nunca mais tinha que comer aquela comida odiosa que a minha mãe encomenda.
Caprice sorriu.
Alguns minutos depois Matt e Violet apareceram, e o caçador transportava aquilo que parecia ser um bonito cachorro branco morto. Depois baixou-se junto de umas pedras e começou a fazer fogo. (...)
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