* Porta Para Um Mundo Mágico *
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Amanheceu e a chuva persistia em cair. Contudo, desta vez, era ainda mais fria e triste para a pobre Evelin.
Mal tinha acabado o pequeno-almoço de uma torrada, já o pai a chamava para seguirem viagem. Na mala tinha apenas o indispensável e nem o seu adorado leitor de cds lhe foi permitido levar.
Sentada no carro, envolvida pelo silêncio que se fazia sentir, Evelin observava as gotas de chuva a escorrerem pelo vidro, faziam-lhe lembrar a sua vida que se ia desmoronando lentamente. Embalada pelo som da chuva no tejadilho do carro os seus olhos cansados, resultado de uma noite em branco, finalmente fecharam.
Quando Evelin abriu de novo os olhos o cenário havia mudado radicalmente. Não mais se avistavam os altos arranha-céus cinzentos e a chuva fora substituída por um sol radiante.
Álvaro parou, minutos depois, numa estação de serviço cujo letreiro partido tornava ilegível o nome daquele local.
Sem dirigir uma só palavra à filha Álvaro dirigiu-se ao restaurante e ambos tiveram aquela a que se poderia chamar “a refeição mais silenciosa do mundo”.
Enquanto Evelin se deliciava com um saboroso hambúrguer, um homem alto, moreno, de barbas e cabelos prateados aproximou-se da mesa transportando um molho de flores.
- Não estamos interessados em comprar nada! – Apressou-se Álvaro.
O homem de barba prateada sorriu:
- Oh…mas eu não pretendo vender nada! – Afirmou ele com a sua voz forte mas meiga – Apenas gostaria de oferecer uma rosa a esta bela jovem.
Evelin corou ao receber uma rosa de um azul mais profundo que o oceano.
- Bem…hum…obrigada por me oferecer uma rosa pintada! – Agradeceu Evelin com ironia.
- Mas não é pintada menina… - Respondeu o homem.
Evelin soltou uma pequena gargalhada:
- Toda a gente sabe que não existem rosas azuis naturais! – Replicou a jovem.
O misterioso homem baixou-se como se fosse segredar algo a Evelin:
- Talvez não neste mundo…- Murmurou ele -…guarde-a bem menina ela vai aproxima-la de algo que lhe trará felicidade. – Dito isto, o homem de cabelos prateados afastou-se e saiu do restaurante deixando Evelin bastante intrigada com aquelas palavras.
“Talvez seja apenas um lunático!” – Pensou ela a fim de afastar os pensamentos estranhos da sua mente.
Terminado o almoço Álvaro e Evelin percorreram estradas através de montanhas e campos cultivados até que, três longas horas depois, alcançaram uma pequena povoação rodeada por bosques. Na entrada da aldeia lia-se numa velha tabuleta de madeira “Bem Vindos a Celtin”.
Evelin sempre achara ridículo tudo aquilo, as mulheres idosas nos portões das casas, olhando-a de lado, os homens sempre preocupados com as colheitas e as crianças e jovens sempre a correr de um lado para o outro na rua. Era como se aquele local, perdido no meio de nada tivesse parado num tempo remoto.
Felizmente para Evelin a casa da avó ficava afastada da povoação, no extremo da aldeia, mesmo ao lado do denso bosque de Celtin.
O carro de Álvaro fora seguido por olhares curiosos á medida que atravessava a aldeia. Por fim chegaram a uma cerca de madeira branca que conduzia a uma adorável casinha amarela de telhado branco.
A avó Camila esperava-os sorridente junto á cerca.
- Querida Evelin! – Disse a avó Camila na sua voz doce enquanto correu para abraçar a neta.
Estava exactamente como Evelin se lembrava da última e única vez que tinha visitado a avó: cabelos brancos apanhados em cima da cabeça, olhos azuis brilhantes e meigos, pele engelhada, sempre com um avental florido e o seu belo e terno sorriso.
- Há quanto tempo não te via meu bem! E como cresces-te e te tornaste numa bonita menina! – Afirmou a avó entusiasmada examinado a neta. – E tu Álvaro…sempre com esse ar cansado e aborrecido! Devias fazer como a tua filha e tirar umas férias aqui no campo!
Álvaro forçou um sorriso.
- Que pena a minha Cristina não puder ter vindo! – Continuou Camila – Também sempre atarefada com aquela loja infernal! Nem sei como vocês sobrevivem! Olhem para a menina… - A avó Camila apertou a face de Evelin - …tão pálida e magra! Esses ares de cidade só lhe fazem mal!
- Ok Dona Camila! Eu vou indo, tenho um longo caminho a percorrer…tome bem conta dessa menina e não a deixe sair das marcas! – Ordenou Álvaro lançando um olhar de desprezo a Evelin.
- Oh…que nunca saiu das marcas nesta idade Álvaro?! – A avó Camila soltou uma sonora gargalhada.
O pai de Evelin revirou os olhos e entrou no carro partindo a toda a velocidade.
A avó Camila, sem nunca perder o sorriso olhou Evelin:
- Anda meu bem, vou-te preparar um lanche! Pareces morta de fome!
Evelin entrou na casa amarela seguida pela avó.
Lá dentro tudo parecia adaptar-se à figura simpática e doce da avó Camila. Chão de madeira e paredes brancas, os armários da cozinha eram em madeira branca e as pequenas janelas estavam deliciosamente decoradas com cortinados floridos e rendados.
Nada desta ternura porém agradava a Evelin que amava acima de tudo a sua cidade escura e cinzenta que tão bem se encaixava com a sua vida. Ali a jovem sentia-se deslocada, num mundo ao qual não pertencia, mas após dar uma dentada na deliciosa tarte de maçã da avó sentiu-se um pouco melhor.
À noite, após o jantar, a avó Camila sentou-se com Evelin no sofá da sala, onde também as madeiras e os motivos florais eram abundantes.
- Então diz-me meu bem…que se passou para a tua mãe parecer tão perturbada quando me ligou? – Perguntou Camila mantendo-se sempre calma e amável.
- Hum…eu envolvi-me numa briga na escola e fui expulsa… - Respondeu Evelin timidamente.
- E essa briga teve algum motivo em especial?
- Sim…foi o meu namorado…ex-namorado…ele e uma rapariga que eu sempre detestei magoaram-me muito…
- Oh…então ninguém tinha o direito de te repreender por teres demonstrado os teus sentimentos… - A avó Camila sorriu e levantou-se saindo da sala.
Momentos depois Camila apareceu na sala transportando consigo um embrulho de papel pardo e entregou-o a Evelin.
- Abre meu bem… - Pediu a avó Camila.
Evelin retirou cuidadosamente o papel, desembrulhando um bonito globo de neve. Lá dentro a estátua de uma pequena fada cor-de-laranja sorria.
Evelin olhou a avó esperando uma explicação para aquele presente tão inesperado.
Camila sorriu adivinhando os pensamentos da neta:
- É uma fada. As fadas são protectoras das pessoas que as acolhem, dão alegria e amor…achei que era disso mesmo que precisavas…
Evelin baixou o olhar achando ridícula aquela crença da avó.
- Avó… - Disse ela -…eu não acredito em contos de fadas! Os meus problemas não se vão resolver com uma fada muito menos com um globo de neve!
Evelin levantou-se e dirigiu-se ao fundo do corredor onde ficava o seu quarto.
O quarto era pouco maior que o hall de entrada do seu prédio e apesar da decoração ser um pouco antiquada, tinha uma janela que lhe oferecia uma bela vista sobre o bosque.
Evelin pousou o globo na mesa-de-cabeceira junto à rosa azul. Depois sentou-se no chão com a cabeça entre as pernas. Os pensamentos corriam-lhe a mil á hora, toda a sua vida de infortúnio e agora para piorar mais a situação encontrava-se num sítio isolado longe das poucas coisas que ainda lhe traziam alegria.
Na mente de Evelin persistia a imagem de Paulo beijando Cecília, de todas as raparigas rindo-se dela e de um mundo inteiro a ignora-la.
- Não acredito em contos de fadas! – Gritou Evelin e num movimento de raiva derrubou o globo de neve que caiu ruidosamente no chão.
Nesse momento um deu-se um enorme clarão de luz que quase cegou Evelin. Quando o clarão acabou Evelin abriu os olhos lentamente. O globo estava despedaçado no meio do chão. A jovem correu para ele tentando apanhar todos os pedacinhos, mas algo faltava, talvez a peça mais importante do globo de neve – a fada laranja.
Evelin procurou desesperadamente pelo chão do quarto, debaixo dos móveis e da cama até que, uma voz fina e melodiosa a faz saltar.
- É verdade aquilo que disseste? – Perguntou a voz.
Evelin olhou à sua volta assustada por não avistar ninguém no quarto.
- Aqui em cima tonta! – Disse a voz.
Evelin ergueu o seu olhar até á mesa-de-cabeceira e qual não foi o seu espanto, quando viu, ao lado da rosa azul, uma pequena mulher, que não parecia ter mais de vinte centímetros, de cabelos cor de fogo, uns grandes olhos verdes, envergando um curto vestido cor-de-laranja e uma asas igualmente laranja.
- Olá! – Disse a mulher acenando e esboçando um simpático sorriso.
Evelin soltou um grito recuando rapidamente.
- O que…o que és tu? – Perguntou Evelin receosa.
A mulher levantou-se e espreguiçou o seu pequeno corpo.
- O meu nome é Caprice, sou uma fada e tu acabas-te de me libertar! – Sorriu ela.
Evelin não conseguia fechar a boca de espanto.
- Aquela tarte devia estar estragada…- Disse Evelin para consigo - …tem calma Evelin, deves ter adormecido e vais ver que tudo isto não passa de um sonho.
Caprice franziu o sobrolho e voou até Evelin que recuou rapidamente.
- Porque não acreditas que sou real? Não me estás a ver? – Perguntou a fada sempre tentando alcançar Evelin.
- As fadas não existem…eu devo estar com alucinações e tudo isto vai acabar brevemente. – Respondeu Evelin tentando a todo o custo acreditar nas suas palavras.
- Bem… - Caprice sorriu maliciosamente -…se eu não existisse… - A fada aproximou-se de Evelin – Conseguiria fazer isto?! – Caprice puxou violentamente um cabelo a Evelin.
- Ai! – Gritou a jovem. Depois pensou por instantes tentando assimilar tudo – Então isso quer dizer que tu és real? Uma fada? Daquelas que fazem magia e tudo?
Caprice acenou afirmativamente.
- Magia, truques, traquinices…tudo e mais alguma coisa! – Concluiu ela – E como me salvas-te da minha prisão de neve tenho o dever de ser tua protectora para sempre! – Acrescentou Caprice.
- Minha protectora?! – Evelin soltou uma risada enquanto se levantava do chão – Vais precisar mais do que vinte centímetros para me puderes proteger!
Caprice seguiu Evelin.
- Eu posso ter a altura que desejar, mas só dentro de Celtiwonde! – Afirmou a fada.
- Celti quê?! – Perguntou Evelin que ficava cada vez mais baralhada.
- Celtiwonde! O bosque mágico! Nunca ouviste falar?! Admira-me pois o teu quarto tem vista para a sua entrada!
Evelin olhou Caprice confusa.
- Sabes…hum… - Caprice hesitou.
- Evelin… - Ajudou a jovem.
- Sim Evelin! Sabes Evelin eu acho que devias vir comigo a Celtiwonde! Só para veres como as fadas são bem reais! – Sugeriu Caprice.
- A Celtiwonde?!
- Sim! Porque não vens comigo amanhã?
Evelin encolheu os ombros e foi-se deitar.
Na manhã seguinte Evelin acordou com o cheiro delicioso de chocolate quente. Levantou-se e correu rapidamente para a porta até que foi detida pela voz de Caprice.
- Bom dia dorminhoca! – Saudou a fada.
Evelin parou junto à porta e virou-se lentamente encarando a fada.
- Oh…afinal não eras um sonho…
Caprice tomou uma expressão zangada:
- É claro que não sou um sonho! Porque é tão difícil para ti acreditares que as fadas existem?! – Replicou Caprice.
Evelin sorriu:
- Talvez porque elas não existiam de onde eu vim! – Dito isto a jovem precipitou-se para a cozinha.
Lá a avó Camila acabara de preparar o mais delicioso chocolate quente do mundo. Evelin bebia-o deliciando-se a cada gole e Camila observava-a sorrindo.
- Quais são os teus planos para hoje querida? – Perguntou a avó.
- Hum…- Evelin hesitou pensando na resposta pois nem ela sabia o que realmente ia fazer -…vou andar por aí! – Respondeu ela por fim terminando o seu chocolate quente.
A avó Camila levantou-se pegando na caneca vazia de Evelin:
- Então diverte-te querida! – Sorriu a avó.(...)
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